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LAURA AUSTREGÉSILO

(     BRASIL – RIO DE JANEIRO )

Nasceu em 1934, no Rio de Janeiro.

Cursou jornalismo na antiga Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil e formou-se em Administração pela Escola Brasileira de Administração Pública (EBAP), da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Tem mestrado em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O interesse da escritora carioca pela literatura destinada a crianças e jovens surgiu ao participar do grupo que, em 1968, organizou a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) - entidade pioneira no Brasil no estudo e promoção dos livros para crianças e jovens. Primeira diretora executiva desta fundação, foi reeleita para o cargo durante dezesseis anos.
Em seguida trabalhou durante onze anos na Fundação Roberto Marinho, criando seu núcleo de estímulo à leitura, hoje extinto. Integra, desde 1996, o Conselho Diretor da FNLIJ.
É colaboradora do jornal O Globo, do Rio de Janeiro, desde 1975, resenhando livros destinados a crianças e jovens.
Coordenou os projetos de incentivo à leitura Ciranda de Livros, Viagem da Leitura, Nossa Biblioteca e Quem Lê Jornal Sabe Mais. É autora de ensaios publicados em revistas especializadas, no Brasil e no exterior.
Dirige a coleção Novas Seletas, na qual foram revisitados, até o momento, oito grandes clássicos nacionais.
Faz parte do Conselho Curadora da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, participa de seminários e congressos no Brasil e no exterior, e se tornou Membro Honorário de IBBY, honraria conferida pela primeira vez a um latino-americano.

Publicações (entre outros)
- Ao longo do caminho, Ed Moderna, 2003
- Austregésilo de Athayde: o século de um liberal, com Cícero Sandroni, Singular Digital, 1998
- De Lobato a Bojunga - as reinações renovadas, Ed Agir, 1987
- A criança e o livro - guia prático de estímulo à leitura (org. com Luiz Raul Machado), Ed Ática, 1986
- Bibliografia analítica da literatura infantil e juvenil, Ed Aberto, 1985

Biografia: https://www.memoriadefamilia.com.br/

AUSTREGÉSILO, Laura. Imaginário da Primavera.  Capa: Antônio Lobo. Ilustração da capa: Pablo Picasso.  Apresentação: Cecília Meireles.   Salvador, Bahia: Edições Macunaíma, 1991.   73 p.
No. 10 751                             Ex. biblioteca de ANTONIO MIRANDA

        Dentro de mim

                            Para Regina Helena


O eco dos sussurros da brisa nas palmeiras
e do bramido das ondas na areia
espraiadas em fúria
não está longe nem perto
está dentro de mim.

O eco que sobe das minas
baixa das nuvens
paira nos céus
não está longe nem perto
está dentro de mim.

O eco do Bumba-meu-boi do Maracatú
dos cantos da Mãe-d´Água
da música dos longos lamentos nas plantações de
[algodão
não está longe nem perto
está dentro de mim.

O eco dos estrondos e murmúrios em percussão
do tempo em andamento
do mistério da alegria nos acordes finais
não está longe nem perto
está dentro de mim.


Descanso

Envolta em meus pavores
no mistério dos meus amores
no caminho do meu medo
eu tropeço nas pedras pontiagudas
da estrada sem volta.

Mas logo vislumbro ao longe
flutuante no espaço
um novo horizonte
orvalhado de flores e de nuvens.

Para lá é que me dirijo
lá é que me esconder eu quero.
Mesmo sangrando os pés nas pedras pontiagudas
da estrada sem volta
é lá que eu quero ficar
lá que quero morrer.

Paz

      O sono que tarda
retarda o olvido
da imagem improvável.

Na usura da ternura
desgaste de gestos vãos
o ouvido desatento
não capta o desalento.

Dividido o coração
no descompasso das coisas pressentidas
não permitidas
busca de si mesmo o compasso
no passo lúdico do último senão.      


O vir-a-ser

      Longe a vida
    perto a morte.
 Que coisas estranhas
nas entranhas do meu ser.

Desenhos truncados
deformados sons
impossível mistério
nas entranhas do vir-a-ser.

Se a ternura tarda
e a doçura das coisas se perde
ninguém sabe onde
quem poderá descobrir
o que vai acontecer
nas entranhas do vir-a-ser?


O orixás

                    Para Tati

Os orixás cantam e dançam entre plantas
e flores
nos cercados da alegria.

Os orixás calados ficam pé
no duro chão do pecado
à espera da madrugada
que trará a alvorada dos desejos.

Os orixás que tudo sabem e tudo calam
na meiguice e violência
de seus traços
de braços tendidos
tudo perseguem
na visão perdida
para se manterem vivos.

*

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